terça-feira, 3 de maio de 2011

SEMANA DOS MUSEUS 2011



SEMANA DOS MUSEUS 2011

Indígenas preparam atividades nas aldeias
  
Publicação representa iniciativa de historiadores
pela preservação da memória dos povos indígenas

Maio é tempo de apreciar a programação desenvolvida por três museus indígenas no Ceará para a Semana Nacional de Museus 2011. As comunidades que possuem espaços de memória se organizaram e vão realizar atividades voltadas para as aldeias.

Entre os museus que deixaram de ser incluídos na programação — o Memorial Tapeba Cacique-Perna-de-Pau e o MIJK —, o Museu Indígena Jenipapo-Kanindé (TI Lagoa Encantada em Aquiraz) vai oferecer visitas guiadas para estudantes da comunidade e visitantes.

Vale destacar que a organização dos museus indígenas no Ceará encontra-se em processo de construção, numa parceria entre o Projeto Historiando* e as organizações indígenas.

Estas iniciativas de ações simultâneas, mesmo que estimuladas via IBRAM-Instituto Brasileiro de Museus / MinC-Ministério da Cultura, são a materialização do processo de apropriação do espaço museológico em andamento. Seus maiores protagonistas são as próprias comunidades que lideram os processos de musealização, buscando a apropriação das ferramentas de administração, gestão e construção da memória social e de pesquisa, para salvaguarda e comunicação do seu patrimônio cultural.


SEMANA NACIONAL DE MUSEUS 2011- MUSEUS E MEMÓRIA 
 MUSEUS INDÍGENAS DO CEARÁ
Programação

1. MONSENHOR TABOSA
Povos Potyguara, Tabajara, Tubiba e Gavião

Maria Firmina de Melo
Aldeia Tourão, s/n – Zona Rural
socorro.potyguara@gmail.com
Tel.:(88) 9274-4993

08 e 09/05 – das 09h às 12h
Oficina - Arte e Cultura para crianças e adultos das aldeias Tourão e vizinha
Local: Aldeia Tourão

POTYGATAPUIA
Aldeia Mundo Novo, s/n – Zona Rural – Aldeia Indígena
tequinhapereira@yahoo.com.br
Tel.:(88) 6696-1559

24 e 25/05 – das 08h às 16h
Mesa-redonda – Apresentação dos símbolos do museu em forma de mesa-redonda, mostrando a importância do museu para os povos indígenas da região.
Local: Aldeia Mundo Novo, Mons. Tabosa

POTYRA
Mundo Novo, s/n – Aldeia – Zona Rural
teresapotiguara@hotmail.com
Tel.:(88) 3696-1559

22 a 25/05 Mesa-redonda - Museus Indígenas e sua importância para a cultura local


2. PORANGA – Aldeia Imburana
Povos Tabajara e Kalabaça

Oca da Memória
Raimundo Bezerra de Menezes, s/n – Jardim das Oliveiras
(Escola Diferenciada Jardim das Oliveiras)
morubixaba2010@gmail.com
Tels.: (88) 3658-1435 / (88) 9991-1673

18/05 – das 13h30 às 14h
Abertura: Ritual Sagrado - Toré
Dança Indígena dos Povos Tabajara e Kalabaça de Poranga
Local: Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Jardim das Oliveiras - Escola Indígena de Poranga-CE

18/05 – das 14h40 às 15h10 Exibição: filmes produzidos no projeto Nossos Pais e Avós nos Contaram e nos Contam
Local: Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Jardim das Oliveiras - Escola Indígena de Poranga-CE

18/05 – das 16h30 às 17h
Exposição e comercialização de artes indí­genas, vídeos e comidas típicas dos Tabajara e Kalabaça de Poranga.
Local: Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Jardim das Oliveiras - Escola Indígena de Poranga-CE

18/05 – das 13h30 às 14h
Outros: Abertura do evento com Ritual Sagrado - Toré dos Povos Indí­genas Tabajara e Kalabaça de Poranga.
Local: Escola Indígena de Poranga - Rua Raimundo Bezerra de Menezes, Bairro Jardim das Oliveiras.

18/05 – das 14h às 14h30 Palestra: Importância da valorização, preservação e manutenção dos acervos existentes no Museu, visando o fortalecimento da identidade étnica e cultural indígena.

18/05 – das 16h às 16h30
Visita guiada: Museu Oca da Memória
18/05 – das 15h20 às 15h50 Visitação: Sala Saberes e Fazeres, uma ação do Museu Oca da Memória Local: Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Jardim das Oliveiras - Escola Indígena de Poranga


3. ARATUBA – Aldeia Fernandes
Povo Kanindé de Aratuba
Museu Indígena Kanindé de Aratuba

20/05
Oficina: Inventário Participativo em Museus Indígenas
Ministrante: Alexandre Gomes (Mestrando em Antropologia - PPGA / UFPE)
Público-alvo: lideranças comunitárias, estudantes e professores da Escola Indígena Diferenciada
Contatos: (85) 9209-9593 (Cacique Sotero) e (85) 8781-9178 (Alexandre Gomes)


* O Projeto Historiando surgiu em 2002, a partir da iniciativa de profissionais das áreas de História e Patrimônio comprometidos com a educação enquanto ferramenta de transformação social. O objetivo é pesquisar e tornar pública a história de comunidades a partir da perspectiva de seus moradores, bem como inserir a importância da discussão sobre a construção social da memória nas lutas dos movimentos sociais contemporâneos.

O envolvimento do Projeto Historiando com a questão indígena no Ceará deu-se a partir de 2007, com a realização do curso Historiando os Tapeba, em parceria com as ONGs ADELCO- Associação para o Desenvolvimento Local Co-Produzido e ACITA-Associação das Comunidades dos Índios Tapeba, do qual resultaram três exposições e um livreto, com título homônimo ao curso.

No segundo semestre daquele ano,
Alexandre Oliveira Gomes e João Paulo Vieira Neto participaram da pesquisa que resultou na publicação do livreto Povos Indígenas no Ceará: organização, memória e luta, coordenado pela antropóloga Isabelle Braz e editado por ocasião da exposição Índios: os primeiros brasileiros, organizada pelo prof. João Pacheco de Oliveira (Museu Nacional / UFRJ), promovido no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, entre out- dez/2007.

Durante a pesquisa, além da consulta a fontes primárias (manuscritas e impressas) e secundárias (estudos acadêmicos, principalmente), foram visitadas algumas comunidades indígenas nos municípios Poranga, Monsenhor Tabosa e Crateús, e feitos contatos com a realidade deles no sertão do Ceará, suas organizações locais, lideranças e desafios, bem diferentes dos povos mais próximos à capital Fortaleza.

A partir de então, o Projeto Historiando vem estabelecendo uma parceria política e educacional com as organizações indígenas no Ceará, no que se refere à reflexão sobre a memória enquanto instrumento de luta e afirmação étnica, que se materializa na construção de espaços de memórias nas comunidades, construídos e geridos pelos próprios indígenas capacitados.

Entre 2007 e 2008, a dupla assessorou a organização da Oca da Memória, museu indígena dos Tabajara e Kalabaça que vivem no município de Poranga, a 340 quilômetros de Fortaleza. A assessoria consistiu de mobilização para a formação do acervo inicial, e incluiu o processo de documentação do mesmo, a organização de um núcleo gestor e das potenciais atividades de um núcleo educativo.

Oliveira Gomes e Vieira Neto identificaram no início de 2009 três museus indígenas em funcionamento no Ceará: o Memorial Cacique-Perna-de-Pau, construído pelos Tapeba, em Caucaia, no ano de 2005; a Oca da Memória, organizada pelos Kalabaça e Tabajara, em Poranga, em meados de 2008; e o Museu dos Kanindé, em Aratuba, organizado pelo Cacique Sotero, a partir de 1995.

Catalogaram ainda centros culturais como a Abanaroca (Casa do Índio) dos Potyguara/Gavião/Tabajara/Tubiba-Tapuia, em Monsenhor Tabosa; a Casa de Apoio dos Pitaguary, em Monguba (Pacatuba); e a sede da primeira escola diferenciada dos Tremembé, em Almofala (Itarema) — espaços que atuam com funções específicas, de acordo com a organização de cada povo. No primeiro semestre de 2009 realizaram visitas técnicas para a elaboração de diagnósticos participativos visando a (re)estruturação museológica nestas seis comunidades étnicas.

Em novembro de 2009 a dupla publicou o livro Museus e memória indígena no Ceará: uma proposta em construção, que apresenta os resultados destes diagnósticos participativos e das reflexões que os fundamentaram e deles resultaram, documentando o processo de construção de uma política cultural voltada à educação histórica e museológica junto aos povos indígenas no Ceará, difundindo metodologias para inspirar iniciativas similares.

Uma reflexão mais sintética sobre o tema foi publicada no livro Na mata do sabiá: contribuições sobre a presença indígena no Ceará, que também objetiva afirmar e reforçar a autonomia dos povos indígenas cearenses, como pressuposto fundamental para o seu reconhecimento e a demarcação definitiva de seus territórios — demandas urgentes destas comunidades e que urgem respostas, por parte do Estado, e mobilização política por parte da sociedade civil organizada.


SAIBA MAIS

(texto: Alexandre Oliveira Gomes e João Paulo Vieira Neto)
(imagem: http://projetohistoriando.wordpress.com)

1 comentário:

  1. Parabens, espero poder continuar acompanhando.
    Marcos Aguiar - projeto indios na cidade - Opção Brasil
    www.opcaobrasil.org.br

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